29/11/17

Elogio à tristeza



Peniche | agosto 2017



   
    Li hoje algures aqui pela internet um texto de alguém que escrevia que os melhores livros que leu eram de alguma forma sofridos, que, coincidência ou não, nenhum dos seus livros preferidos eram livros alegres ou felizes.
    
   As minhas músicas preferidas são quase todas mais dadas à melancolia também. Uma vez, há alguns anos, perguntaram-me porque é que ouvia tanta música triste. Na altura levei a peito, (quase como uma ofensa), não quis admitir e perguntei-me muitas vezes qual seria a razão. Sei hoje que não preciso tanto de música quando estou tranquila e alegre. É nos momentos de tristeza e desespero que a melancolia alheia me conforta, como se a catarse pudesse também ser feita através da identificação com outros seres que sentem tudo com esta intensidade também. Admiro muito quem não tem medo de ser vulnerável, expressando-se e transformando os seus momentos de maior fragilidade e descontrolo emocional em algo cheio de verdade, sensibilidade e beleza. 
  Talvez o sentido da vida também seja isto, a constante procura de formas de apaziguar as nossas feridas por cicatrizar. Não tenho dúvidas nenhumas de que a música também cura.


24/11/17

Eu sou meu próprio lar





"Triste louca ou má
Será qualificada
Ela quem recusar
Seguir receita tal

A receita cultural
Do marido, da família
Cuida, cuida da rotina

Só mesmo rejeita
Bem conhecida receita
Quem não sem dores
Aceita que tudo deve mudar

Que um homem não te define
Sua casa não te define
Sua carne não te define
Você é seu próprio lar

Um homem não te define
Sua casa não te define
Sua carne não te define

Ela desatinou
Desatou nós
Vai viver só

Ela desatinou
Desatou nós
Vai viver só

Eu não me vejo na palavra
Fêmea: Alvo de caça
Conformada vítima

Prefiro queimar o mapa
Traçar de novo a estrada
Ver cores nas cinzas
E a vida reinventar

E um homem não me define
Minha casa não me define
Minha carne não me define
Eu sou meu próprio lar

Ela desatinou
Desatou nós
Vai viver só"



Triste, Louca ou Má - Francisco, El Hombre




09/11/17

Bons Sons

   
   O Bons Sons decorreu entre os dias 11 e 14 de Agosto na Aldeia de Cem Soldos, em Tomar. Com um belíssimo e eclético cartaz composto exclusivamente por música portuguesa, nem só de música vive o festival, tendo actividades a decorrer em diferentes pontos, desde a manhã, algumas delas especialmente dedicadas aos mais pequenos. Este festival destaca-se também pelas seus valores ecológicos, de inclusão e sustentabilidade que fazem todo o sentido e deveriam ser exemplo neste tipo de eventos e tem-se afirmado pela sua identidade muito própria como um dos festivais mais genuínos e castiços do país.








  Fui este ano pela primeira vez, cheguei no segundo dia ao fim da tarde e tive a oportunidade de assistir a óptimos concertos e experienciar o ambiente que se viveu estes dias em Cem Soldos. Deu para ver muitas caras conhecidas, conversar com os locais, coleccionar algumas histórias, ver estrelas cadentes e verdadeiramente "viver a aldeia".



        Sonoscopia
     Moços da Vila


     Joana Barra Vaz
     Captain Boy



     Sampladélicos
     Samuel Úria



     Valter Lobo
Cem Soldos | agosto 2017
   

   Destaco 3 concertos que me marcaram de formas diferentes: Samuel Úria, que esteve mais do que à altura das expectativas elevadas que tinha, os Sampladélicos, que são um dos projectos mais originais que conheci nos últimos tempos e casam a electrónica com a música tradicional portuguesa e por último o concerto do Valter Lobo no coreto, ao fim da tarde do último dia, em que a nostalgia pelo fim anunciado do festival, aquela sensação de estar tudo certo, com a voz do Valter em fundo e a brisa morna me fizeram sentir como personagem de um filme com final feliz. E não tenho como não mencionar o momento em que a Dª Maria José sobe ao palco e dança ao som dos Octa Push, como prometeu, - que me deixou com um sorriso até aos olhos e foi a confirmação de estar num sítio muito especial onde quero, sem dúvida, voltar.