27/09/17

O que fica





























Porto dos Fusos | junho 2017



    Na aldeia em que a minha mãe nasceu, uma semana depois do episódio que nos deixou de coração nas mãos, a minha avó e a minha tia mostram-nos o que ficou. Uma flor que no meio de cinzas e folhas secas insiste em florescer, os animais que, ainda assustados, andam ocupados nas suas vidas e nos motivam a fazer o mesmo. Qualquer sinal de vida é agora ainda mais precioso no contraste com a falta dela, com as árvores que desapareceram, secaram ou murcharam, com o palheiro que desabou. Depois do terror e do medo, o que fica são os exemplos vivos de quem não pára para se lamentar mas continua a procurar luz no meio do escuro, que depois dos relatos emocionados de um dos piores dias das nossas vidas e com o negro cenário com que têm de se deparar todos os dias a lembrar o que perderam, continuam a ser capazes de rir e apreciar o que de bom ficou. O exemplo que dão mesmo sem se aperceberem - há coisas que nenhum fogo nos pode levar.

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