21/12/17

Trinta







Lisboa | dezembro 2017





   Chegaram, no dia dezoito, os temidos 30. Estava tão confortavelmente instalada no último restinho dos vinte que evitei pensar no assunto. Uma semana antes surtei um bocadinho e tive o impulso de cortar o meu próprio cabelo, fui ao salão acertar a borrada que fiz e agora tenho de usar um penteado ainda pior.* O dia do meu aniversário foi solarengo e passado de forma muito agradável, rodeada de pessoas muito especiais. Assim, ao contrário do que previa, os 30 foram recebidos com tranquilidade e um aconchego no peito que volto a sentir sempre que revejo as fotografias. Com esta idade não sou, de longe, tudo o que imaginava que seria nem fiz quase nada do que imaginava que teria feito. E tudo bem. É provável que seja este jogo de expectativas e comparações, (assim como a constante exaltação da juventude - especialmente cruel em relação às mulheres) que cria ansiedades como a que senti. Sei que não devia dizer a ninguém mas o desejo que pedi quando trinquei a vela foi que eu consiga ouvir sempre a minha intuição - de forma a viver de forma consciente para saber quando aceitar ou rejeitar os padrões e normas que me impingem todos os dias.




* Duas semanas depois, consigo entender que quando peguei na tesoura fi-lo porque senti uma necessidade muito grande de deixar de ter o aspecto a que me habituei e era esperado de mim - o cabelo como acessório para potencializar os traços do meu rosto, para me tornar "mais bonita". Usar o cabelo mais curto tem um efeito libertador principalmente porque, ao não me sentir confortável com o meu aspecto, me faz procurar beleza ou pelo menos alguma harmonia, onde ela não é tão óbvia. Faz-me reflectir sobre esta necessidade de ser agradável aos olhos dos outros, de ser "adorno", de procurar uma aprovação da qual, na verdade, faço os possíveis para não depender.

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