28/12/18

Nervura







novembro 2018





saio do café, das árvores caem
folhas, apanho duas de plátano
e outras tantas de amieiro,
seduzem-me
tanto pela forma, como pelas nervuras,
senti-las entre os dedos, veias,
o tacto da seiva, língua da raiz ao
firmamento
vou cosê-la num alinhavo de sangue
e saliva, a linha cravada na pele
dizendo-me as feridas da existência,
voo de pássaro, conquanto
caído.

Hélder Magalhães, Nunca Estiveste Aqui

27/12/18

Black Eyes




No need to lock
Yourself inside in truth or gold
I´ll show you starlight
And every little wonder

Too close to see
I’ll hurt so much
Pulling you deeper
With just one touch

Too close to feel
I’ll hurt you so bad
Just fake it until you break

Best Youth - Black Eyes

21/12/18

não há ajuda para isso




há um lugar no coração
que nunca será preenchido

um espaço

e até durante 
os melhores momentos
e
os melhores
tempos

sabê-lo-emos

sabê-lo-emos
mais que
nunca

há um lugar no coração
que nunca será preenchido

e

nós vamos esperar
e
esperar

nesse 
espaço.

Charles Bukowsky in Os Cães Ladram Facas

12/12/18

Mauvais Sang



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   I can’t forget a thing; emotions no longer replace each other. They seem to accumulate, to pile up and never heal.
Mauvais Sang, Leos Carax (1986)

11/12/18

Jamais abdicarás


junho 2018




   Sei que tu também o farás, olhar-te-ás ao espelho e passarás as mãos delicadamente pelas tuas dores e ficarás grata por elas. Jamais abdicarás de as ter: as imperfeições da felicidade, da infelicidade, dos círculos, dos desequilibristas, dos dedos das mulheres do pátio da minha infância. 

Afonso Cruz in Princípio de Karenina

08/12/18

Petals

maio 2018



To see age in a flower
The dawns are speeding up
You know it’ll hurt you
Feel all of a sudden
Tired and teary-eyed

06/12/18

Chinatown






One of a kind
I need to keep you here
I need to picture you still
I need to clear the fog

We're not happy 'til we're running away
Clouds in your eyes
And nothing but the foggiest day

Wild Nothing - Chinatown

04/12/18

Um forte cheiro a maçã













Lisboa | maio 2018


   
   Fomos ver a peça de teatro da A. mas também demos uma mãozinha num puzzle de 1000 peças, petiscámos, fizemos vlogs imaginários, passeámos, comemos gelados com vento, fomos infantis, tivemos vontade de fazer mil coisas que não tivémos oportunidade, cantámos o primeiro cd dos Deolinda toda a viagem e depois regressámos às nossas vidas habituais.

02/12/18

Não sou




abril 2018



   "Não sou o meu corpo, não sou o meu nome, não sou esta idade, não sou o que tenho, não sou estas palavras, não sou o que dizem que sou, não sou o que penso que sou.
   Não sou o meu corpo porque existo fora da minha pele, para além dela, transcendendo-a delicadamente ou à bruta. Não sou o meu nome porque não sou apenas o meu nome. Não sou esta idade porque esta idade só existe agora - eu fui e serei. Não sou estas palavras porque eu não sou apenas palavras. Não sou o que dizem que sou porque aquilo que sou não se diz. Não sou o que penso que sou porque penso vagamente que sou mais do que consigo pensar. Essa ideia é demasiado vaga e eu sou concreto no mundo concreto, sou real no mundo real." 

José Luís Peixoto in O Caminho Imperfeito