Já passaram uns anos, pelas minhas contas uns dez. Seguia num autocarro da Rede Expressos - era domingo, uma daquelas tardes de inverno que parecem noites. Regressava a Coimbra depois de mais um fim de semana em família. Mp3 no bolso, sintonizado na rádio do costume e os fones nos ouvidos. Ía num estado meio sonolento, até começar a tocar esta versão e me fazer sentir uma coisa cá dentro a que não consigo dar um nome, daqueles raros momentos que inspiram a ver tudo de outra forma, com uma beleza particular que pouco tempo antes não estava lá. Sabia que ía ser breve, abri bem os olhos e tudo me parecia cinematogáfico: via pela janela as luzes e as casas como se corressem lá fora, lá dentro as outras pessoas com os seus corpos atirados nos banco pelo sono, o barulho da chuva, os minutos que passavam no relógio digital que nem sequer estava certo. As coisas mais banais, portanto, só que não tão banais assim. Decidi na hora que no filme da minha vida que nunca vai ser feito, esta música tinha de ser parte da banda sonora.
Hoje à noite, ao passear a cadela, numa rua deserta e sobrepondo-se a milhares de pensamentos na minha cabeça, a mesma música tocou, só para mim. Sorri, fechei os olhos e o guarda-chuva.
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